A TV Cabo Branco teve acesso a uma troca de mensagens atribuída ao chefe de uma facção criminosa, que atua em João Pessoa, e a secretária-executiva de Saúde da capital, Janine Lucena.
O diálogo é alvo de investigação na Operação Mandare, desencadeada pela Polícia Federal, em maio deste ano, para apurar possível relação de grupos criminosos e a prefeitura de João Pessoa.
Na conversa, Janine Lucena e Jossiênio da Silva, conhecido como Ênio Chinês, sugere um acordo de troca de cargos por acesso a comunidades comandadas pelo crime organizado.
Em nota, a defesa de Janine Lucena afirmou que não reconhece as mensagens descritas na investigação, não sabendo as origens das mesma, nem tampouco sua finalidade real (leia a nota completa abaixo). A TV Cabo Branco não conseguiu localizar a defesa de Jossiênio da Silva e sua esposa. O espaço segue aberto.
De acordo com a PF, as informações foram retiradas do celular de Ênio e a conversa foi no dia em 25 de julho de 2022. Ele é considerado um dos chefes da facção nova okaida.
De acordo com a PF, as informações foram retiradas do celular de Ênio e a conversa foi no dia 25 de julho de 2022. Ele é considerado um dos chefes da facção “Nova Okaida” e foi alvo de prisão na primeira fase da Operação Mandare, no dia 3 de maio deste ano, mas já estava detido em penitenciária de segurança máxima em João Pessoa.
No mesmo dia, a polícia fez busca e apreensão na casa e no gabinete da secretária, que é filha do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
Mensagens trocadas
Nas mensagens, Ênio reclama do valor dos salários que a esposa e a filha estão recebendo como servidoras da prefeitura e pede uma ajuda de custo. Ele diz ser dono de comunidades em João Pessoa e ameaça barrar a entrada de pessoas nas regiões se não for atendido.
“Eu não vou mais deixar mais ninguém entrar nos meus lugares sem resolver comigo, como vai ser mesmo. Porque esse pessoal aí ganha as coisas em cima de mim no meu lugar, e eu não vou aceitar mais não e eu não ganhei nada. O povo que eu conheço que apoia vocês é beneficiado”, afirmou.
Nas mensagens atribuídas a Janine Lucena, a secretária diz que cumpriu o que foi prometido.
“A gente achava que estava tudo certo com vocês, achava que o pessoal de lá tinha falado com vocês antes”, afirmou.
Ênio insiste e disse que em uma eleição anterior deixou de fechar com outro candidato porque cumpriu a palavra, mas agora quer ganhar mais.
“Seguinte é esse, Janine: nas eleições passadas, eu não ganhei nada. Minha mulher e filha estão ganhando um salário igual a todo mundo e isso não tá certo, não. Coloquei o povo para trabalhar e não ganhei nada com isso, era pra estar ganhando uma ajuda de custo igual a outros meus parceiros aí, tá entendendo? E nessas eleições agora vai ficar do mesmo jeito? não quero, não”, afirmou Ênio.
Ao tentar explicar a situação, Janine, segundo a polícia, afirmou que todo o acordo foi feito com uma mulher chamada Patrícia.
“Eu vou conversar com Patrícia, mas tudo que combinei com ela eu cumpri”, afirmou Janine.
Ênio rebateu:
“Mas agora é comigo, não é mais com minha mulher, não. Eu fiquei calado da outra vez, mas agora é dessa maneira”, afirmou.
Por fim, a secretária diz que vai tentar resolver:
“Quando conversei com a Patrícia, o pedido dela foi para arrumar algo para ela e para a filha, e foi cumprido. Já marquei com patrícia, vou conversar pessoalmente com ela”, afirmou Janine.
Patrícia é a esposa de Ênio que, segundo a Polícia Federal, era auxiliar de sala de aula da prefeitura e recebia pouco mais de 1.600 reais. A filha, Aline da Silva Santos, era funcionária da Emlur e recebia cerca de 2600 reais. Nenhuma está mais nos cargos e as duas também foram alvos da operação, em maio.
O que diz a secretária Janine Lucena?
Em nota, o advogado Gustavo Botto, que defende Janine Lucena afirmou que ela não reconhece as mensagens descritas na investigação, não sabendo as origens das mesma, nem tampouco sua finalidade real.
A defesa afirma que a secretária, durante depoimento, foi informada pela Polícia Federal que nenhuma daquelas mensagens foram encontradas no celular dela. Ainda segundo eles, Janine não é investiga, sequer foi indiciada pela polícia, razão pela qual possui as certidões negativas de primeira e segunda instância da Justiça Federal e Justiça Estadual.
A nota afirma que Janine Lucena continua a disposição e na internação de colaborar com os órgãos de investigação, ao tempo em que “continuará a se utilizar do Poder Judiciário, para reparar qualquer injusta agressão ou criação de relação inexiste dela com o tráfico nas comunidades de João Pessoa”.
Jornal da Paraíba