O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca neste domingo (20) para a África, onde vai participar da Cúpula do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na pauta do encontro, a ampliação do bloco econômico, medida que depende do aval de todos os membros.
Lula vai visitar também Angola e comparecer à Cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em São Tomé e Príncipe.
A 15ª Cúpula do Brics será a primeira a ser realizada de forma presencial desde o início da pandemia de Covid-19. Dos chefes de governo dos países do bloco, vão estar presentes Lula, Cyril Ramaphosa (África do Sul), Xi Jinping (China) e Narendra Modi (Índia). O presidente russo Vladimir Putin vai participar de forma remota — isso porque há um mandado de captura contra ele emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes na guerra com a Ucrânia.
Três questões serão tratadas na cúpula, segundo o secretário de Ásia e Pacífico, embaixador Eduardo Saboia. “A primeira é a expansão do bloco, algo que não é novo. A entrada da África do Sul, em 2011, foi a primeira ampliação. A segunda é a presença de muitos líderes africanos, e a África do Sul quer chamar a atenção para questões relativas à África, não só em termos de desafios, mas também de oportunidades. A terceira é a discussão do uso de moedas locais para transações comerciais, uma eventual unidade de referência do Brics, e é possível que haja um resultado nessa área”, afirmou.
Na terça-feira (22), os líderes vão participar de um fórum empresarial e depois farão um retiro, este apenas com os chefes de Estado e de governo e respectivos ministros das Relações Exteriores. Nesse evento, o chanceler russo, Serguei Lavrov, estará presente. Segundo o Itamaraty, a reunião vai tratar da guerra na Ucrânia. “Certamente o tema será discutido de forma mais aprofundada do que na declaração”, diz Saboia.
No dia seguinte (23), ocorre a reunião de cúpula em duas sessões. Já na quinta-feira (24), a última etapa do evento terá encontro estendido com os países-membros do Brics e cerca de 40 nações convidadas de Ásia, Caribe, América do Sul e África — a maioria interessada em ingressar no bloco econômico. Depois, Lula segue para Angola e São Tomé e Príncipe.
Essa não é a primeira viagem de Lula ao continente africano neste mandato. O presidente passou em Cabo Verde em 19 de julho, após viagem a Bruxelas. O petista visitou o país de forma não oficial, porque o avião presidencial não suportava deslocamento entre continentes sem fazer parada para abastecimento. Na ocasião, ele falou sobre escravidão.
“Eu quero recuperar essa relação com o continente africano, porque nós somos formados pelo povo africano, nossa cultura, nossa cor e nosso tamanho são resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus. Temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”, disse Lula na ocasião.
Ampliação do Brics
De acordo com o secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, 22 países já manifestaram formalmente o interesse em integrar o Brics. Entre eles estão Argentina, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O grupo foi criado em 2009, representa 23% do PIB mundial e 42% da população mundial.
Os países interessados em ingressar no bloco devem cumprir diversos critérios, ainda em negociação, sendo um deles a eventual aplicação de recursos no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), chamado de banco do Brics, com sede em Xangai (China) e chefiado pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff (PT).
No início deste mês, Lula se manifestou a favor da ampliação do Brics. “Eu acho extremamente importante a gente permitir a outros países, que cumpram as exigências do Brics, entrarem para o Brics. Do ponto de vista mundial, eu acho que o Brics pode ter um papel, eu diria, excepcional”, disse o presidente em entrevista a correspondentes internacionais, no Palácio do Planalto.
“Obviamente que eu não decido sozinho, precisa todos os países decidindo isso”, completou. Lula ainda criticou organismos internacionais que são compostos apenas de nações desenvolvidas, como o G7, grupo dos países mais industrializados do mundo que tem Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Segundo ele, é preciso que essas entidades sejam mais amplas.