O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria recebido parte do valor da venda ilícita de joias sauditas em dinheiro vivo. Relatório da Polícia Federal enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra conversas de WhatsApp trocadas entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid e o ex-assessor Marcelo Câmara nas quais Cid diz que é preciso evitar o uso do sistema bancário: “Quanto menos movimentação em conta melhor, né?”, diz Cid.
A conversa ocorre em 18 de janeiro de 2023, quando Câmara estava com Bolsonaro em Orlando, nos Estados Unidos. O ex-ajudante de ordens diz que tem US$ 25 mil com o pai dele, o coronel Lourena Cid, e que isso poderia ser entregue em “cash”.
“Eu estava vendo o que que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?” Veja:
Na mesma mensagem, Cid diz que “aquele navio e aquela árvore, elas não são de ouro” e relata dificuldades para vender. Em seguida, conta a Câmara sobre o procedimento de venda, por meio de leilão, de um kit, que conteria um relógio. “O relógio, aquele outro kit lá, vai pro dia 7 de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar”.
Em resposta, Câmara se refere aos US$ 25 mil e diz que é melhor “em cachê”.
Ainda em depoimento de Mauro Cid na PF, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirmou ter entregado uma parte do dinheiro da venda das joias em mãos ao ex-presidente durante uma viagem oficial a Nova York.
O dinheiro, de acordo com o relato de Cid à PF, seria referente a um relógio de luxo recebido por Bolsonaro de autoridades estrangeiras e vendido pelo próprio tenente-coronel nos Estados Unidos naquele mesmo ano de 2022.
Desvio de altos valores
A PF concluiu nesse relatório, que chegou ao Supremo, pelo indiciamento de Bolsonaro e mais 11 pelos crimes de peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia. Quando é tratada a entrega de dinheiro em espécie, a PF afirma que “identificou indícios de que Bolsonaro, então presidente da República, seus assessores Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti; o ex-chefe da Ajudância de Ordens Mauro Cesar Cid; o ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência Marcelo Vieira e outras pessoas, ainda não identificadas, atuaram para desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República e/ou por comitivas do governo brasileiro”, diz relatório.
A PF concluiu “que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, concluiu a PF.
Ainda no relatório encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), a PF “indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”, diz.
E conclui: “a utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”.
Sigilo derrubado
Nesta segunda-feira (8/7), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes retirou o sigilo do caso das joias. Moraes considerou que, com o relatório final do caso apresentado pela Polícia Federal na semana passada, não há razão para manter o processo sob discrição.
Agora, a PGR terá o prazo de 15 dias para pedir mais provas, arquivar o caso ou apresentar denúncia.
O relatório da PF indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 11 pessoas no caso em que é apurada a venda ilegal no exterior de joias recebidas durante o mandato presidencial. A PF concluiu que houve crime de peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia criminosa.
A reportagem do Metrópoles entrou em contato com os advogados de Jair Bolsonaro e de Mauro Cid, mas, até a última atualização desta matéria, eles não tinham respondido. O espaço permanece aberto.
Com Paraiba da gente.